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Seria a divindade Asherah, a esposa de Deus ‘apagada’ da Bíblia?

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Tempo de leitura: 5 min.

A teóloga Francesca Stavrakopoulou postula algo que pode abalar as bases do monoteísmo. Mas estaria ela certa?

Seria a divindade Asherah, a esposa de Deus 'apagada' da Bíblia?
Francesca Stavrakopoulou ao lado de uma imagem de Asherah. Crédito: Francesca Stavrakopoulou/BBC

Aqui está um tópico que certamente vai gerar muita controvérsia na área de comentários ao final do artigo.

Como mencionado num artigo publicado no site da BBC (e o que se segue é baseado naquele artigo), no livro do profeta Jeremias, parte do Antigo Testamento da Bíblia, há menções intrigantes a uma figura chamada “rainha dos céus”. Pesquisadores contemporâneos sugerem que essa figura seja, na verdade, Asherah, uma divindade antiga que foi suprimida com a ascensão do monoteísmo patriarcal. Asherah é considerada a esposa de Javé, o Deus judaico-cristão. Estaria isso levantando questões sobre as bases do monoteísmo, já que implica na existência de uma divindade feminina associada ao Deus supremo?

A teóloga Francesca Stavrakopoulou, da Universidade de Exeter, defende essa teoria e apresentou um documentário na BBC abordando o assunto. No programa, ela investiga a presença de Asherah em escrituras e esculturas antigas, desafiando a interpretação tradicional. Embora o nome de Asherah apareça 40 vezes na Bíblia hebraica, em muitas versões traduzidas o termo foi omitido ou substituído.

Ela diz no programa:

“Se Asherah for a mulher de Deus, isso seriamente compromete as bases do monoteísmo.”

No documentário, Francesca Stavrakopoulou conduz uma investigação abordando o tema, consultando especialistas e apresentando evidências da presença da deusa Asherah em escrituras do mundo antigo. Surpreendentemente, o nome de Asherah é mencionado 40 vezes na Bíblia hebraica, porém, em grande parte das versões traduzidas, o termo foi censurado e substituído.

Um exemplo disso é encontrado no livro de Juízes, onde é relatado que “os filhos de Israel fizeram o que é mau aos olhos do Senhor: eles se esqueceram do Senhor, seu Deus, e serviram aos Baalim e às Asherás” – essa é a versão da Tradução Ecumênica Bíblica.

O artigo da BBC continua mencionando que a figura divina Asherah, originalmente uma deusa, acabou sendo reduzida a estátuas representando-a, o que explicaria o uso do plural. No entanto, essa redução se torna ainda mais limitante em outras versões da Bíblia. Por exemplo, segundo o artigo, na tradução Almeida Revisada Atualizada, Asherah é substituída pela expressão “poste-ídolo”. Já na conhecida tradução em inglês, chamada Authorized King James Version, o termo “groves” (bosques) é utilizado no lugar de Asherah no mesmo trecho.

No documentário, Francesca Stavrakopoulou destaca um padrão presente no Antigo Testamento em relação à substituição de menções à mulher de Deus por elementos simplificados que remetem à idolatria ou à natureza, como “árvore”, “árvore da vida” e “bosque”.

A pesquisadora ressalta que, segundo a arqueologia, Asherah não era apenas um objeto, mas uma divindade poderosa, a esposa do Deus supremo El.

Em suas palavras no documentário:

“A arqueologia hoje mostra que Asherah não foi sempre um objeto. Ela foi uma poderosa divindade, a mulher do Deus chefe El.”

Em comunicação por e-mail com a BBC News Brasil, Stavrakopoulou define Asherah como:

“…o antigo nome hebraico de uma importante deusa adorada em várias culturas do Levante* no segundo e primeiro milênios a.C.”.

*[Levante é uma ampla área do Oriente Médio]

Ela destaca que o conhecimento sobre Asherah é mais amplo a partir da cidade-estado de Ugarit, localizada na atual Síria, no final da Idade do Bronze.

Stavrakopoulou menciona que antigas inscrições hebraicas do século VIII a.C. associam Asherah a Javé (também conhecido como Jeová), a divindade patrona de Israel e Judá. Essas inscrições sugerem que Asherah desempenhava o papel de uma deusa protetora, concedendo bênçãos divinas aos adoradores e atuando como mediadora entre os humanos e o Deus supremo Javé.

Segundo o teólogo americano Daniel McClellan, cujo mestrado foi sobre estudos judaicos na Universidade de Oxford, a palavra “Asherah” e sua forma plural “asherim” são usadas várias vezes na Bíblia. No entanto, o termo é limitado à literatura que foi escrita durante e após o reinado de Josias, no final do século VII a.C., e aparece de duas maneiras distintas. Essa é a explicação fornecida por McClellan à BBC News Brasil.

Segundo McClellan:

“Uma das formas de uso é em referência à deusa, mas este não é o uso mais comum da palavra. A maior parte do uso é em referência a uma imagem divina, um ídolo, que pode ter sido representado ou se assemelhado a uma árvore. Este fato resulta, provavelmente, da associação feita entre a deusa Asherah, na arte, com árvores.”

Stavrakopoulou destaca que, embora a Bíblia faça referências frequentes a Asherah, isso geralmente ocorre de maneira negativa. Ela é retratada como uma divindade “estrangeira”, adorada tanto pelos cananeus quanto por israelitas e judaítas idólatras de Judá. Esses adoradores são desvalorizados por criar imagens e objetos sagrados que representam a presença de Asherah, os quais também são chamados de “asherah”.

A teóloga ressalta que a maioria dos estudiosos concorda que o retrato de Asherah na Bíblia é intencionalmente distorcido e depreciativo, e que ela provavelmente era adorada como um membro importante de um antigo panteão israelita e judaico, no qual Javé ocupava uma posição de liderança.

McClellan situa as origens da divindade Asherah na Idade do Bronze, entre o povo hurrita que habitou parte da Mesopotâmia de 3300 a 1200 a.C. Segundo o pesquisador, o culto a Asherah se espalhou para regiões como Ugarit, Anatólia (atual Turquia), Fenícia e o território que hoje é ocupado por Israel e Palestina.

Ele explica que Asherah era identificada como a consorte ou parceira das divindades Anu, na Mesopotâmia, e El, no mundo semítico ocidental, desempenhando um papel significativo nos panteões do antigo sudoeste asiático. Asherah estava associada à fertilidade, à guerra e, inicialmente, também ao mar e à pesca.

A existência de Asherah como a esposa de Deus é respaldada por descobertas arqueológicas que vão além das representações visuais. McClellan menciona que foram encontradas antigas inscrições hebraicas em escavações que mencionam Javé “e sua Asherah”. Ele relata que uma dessas inscrições foi encontrada diretamente sobre um desenho de divindades masculinas e femininas com os braços entrelaçados. O teólogo sugere que Asherah provavelmente fazia parte do primeiro panteão israelita.

De acordo com a teóloga Stavrakopoulou, as tentativas de distorcer e difamar a deusa Asherah provavelmente ocorreram na segunda metade do primeiro milênio a.C., após a destruição temporária do Templo de Jerusalém pelos babilônios em 587 a.C. À medida que o templo foi reconstruído, a adoração a Javé também passou por transformações, com Javé sendo apresentado como um deus intolerante em relação a outras divindades, incluindo Asherah.

Nesse processo, Javé assumiu os papéis desempenhados por outras divindades, e a religião se masculinizou, promovendo a ideia de que havia apenas um deus masculino. Asherah, por sua vez, passou a ser considerada uma divindade falsa ou ilegítima, e sua adoração foi rotulada como primitiva.

A teóloga Ana Luisa Alves Cordeiro, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em um artigo intitulado “Asherah: a deusa proibida”, destaca como o apagamento de Asherah ocorreu durante o processo de transformação das religiões politeístas em uma crença monoteísta. Ela ressalta a importância de reconstruir a presença de Asherah na vida das mulheres e dos homens no antigo Israel a partir de uma perspectiva feminista e de gênero, como forma de entender os espaços religiosos e vitais daquele povo.

O longo artigo publicado no site da BBC Brasil elabora ainda mais os pontos mencionados acima. No entanto, é importante considerar a perspectiva alternativa. Muitos defensores dos valores tradicionais argumentam que atualmente há um esforço mundial para destruir as estruturas religiosas globais, especialmente aquelas enraizadas na tradição judaico-cristã. Isto é declarado abertamente por facções anti-religiosas, sendo muito evidente para aqueles que têm olhos e ouvidos. É só fazer uma breve busca na Internet e milhares de artigos a respeito disso aparecerão.

Mas por que a religião, ou melhor, as antigas tradições incomodam tantas pessoas? Bem, este é um assunto um tanto complexo e certamente qualquer conclusão que seja apresentada por quem quer que seja irá ser contestada intensamente por alguém que tenha uma opinião contrária.

Então, onde reside a verdade?

Pode me chamar do que quiser, mas, na minha opinião (que é nem sempre é publicada aqui neste veículo), quando a mente humana está envolvida em qualquer coisa, o jogo de interesses é muito mais poderoso do que a própria verdade e os fatos podem ser distorcidos para acomodar a “ideologia” de quem os publica. Isso é especialmente verdadeiro quando se trata de crenças religiosas, como também as questões relacionadas à possível visitação extraterrestre ao nosso planeta, que pode estar diretamente ligada às questões religiosas.

Portanto, diante dos desafios, contratempos e constantemente enfrentando oposição de grupos ou indivíduos que discordam do que é apresentado, continuamos nossa busca pela verdade, a qual, quero acreditar, sempre prevalecerá no final, mesmo que demore.

(E, a propósito, contrário do que algumas pessoas possam pensar, fui eu mesmo que escrevi o artigo acima e não a IA. Meu cérebro ainda é capaz disso… por enquanto.)

n3m3

Colaboração: Fran


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