Por David Kipping
O que seria necessário para ocultar um planeta inteiro? Parece mais uma questão colocada em um episódio de “Star Trek” do que no discurso acadêmico, mas às vezes a vanguarda da ciência se confunde com temas encontrados na ficção científica.
Claro, temos vazado nossa própria posição para estrelas distantes por meio de sinais de rádio e televisão por décadas, amplamente ignorantes das implicações cósmicas. Mas vários cientistas notáveis, como Stephen Hawking, expressaram publicamente a preocupação em revelar nossa presença a outras civilizações. Essas preocupações derivam em grande parte dos capítulos mais sombrios de nossa própria história, quando uma civilização mais avançada subjugaria e substituiria uma civilização menos avançada.
Pode ser tarde demais para nos retirarmos para a invisibilidade, mas talvez não para outras civilizações alienígenas inteligentes lá fora. Os habitantes de um planeta distante podem preferir se esconder de gente como nós. Em 2016, meu aluno de graduação Alex Teachey e eu publicamos um artigo que propõe uma maneira de encobrir planetas, bem como uma forma de transmitir a existência de uma civilização. Mesmo que não estejamos manipulando nosso próprio sinal dessa forma, isso não significa que outros planetas não o estejam. É possível que o que vemos enquanto examinamos o universo em busca de outros planetas habitáveis tenha sido projetado para disfarçar ou destacar a existência de outras civilizações.
Rastreando trânsitos para encontrar outros planetas
Antes de falarmos sobre como esconder um planeta de voyeurs distantes, considere a melhor maneira que descobrimos para encontrar um.
A técnica de maior sucesso da humanidade para detectar outros planetas é o método de trânsito. Um trânsito ocorre quando um planeta parece passar na frente de seu sol pai, bloqueando parte da luz das estrelas por algumas horas. Portanto, se temos nossos telescópios apontados em uma parte do universo e uma estrela parece desaparecer durante parte do dia, isso nos diz que um planeta se interpôs temporariamente entre nós enquanto segue em sua órbita.
Usando esta técnica, a missão Kepler da NASA descobriu vários milhares de planetas.
Parece provável que qualquer civilização avançada estaria ciente desse método simples. Cada vez que um planeta transita por sua estrela, sua existência está essencialmente sendo anunciada para todos os pontos situados ao longo do mesmo plano do planeta e da estrela.
Uma civilização avançada pode não se importar em ter a localização, o tamanho e até a química atmosférica de seu planeta anunciados em todo o cosmos. Ou pode desejar ocultar sua presença. Se for este último caso, ela pode optar por construir uma capa de invisibilidade.
Uma capa de invisibilidade planetária
Acontece que ocultar planetas do método de trânsito seria surpreendentemente fácil, tão fácil que nós, terráqueos, poderíamos fazer isso agora, se quiséssemos. Visto que os trânsitos aparecem como uma diminuição do brilho de uma estrela distante, nosso manto hipotético simplesmente produz o aumento de brilho oposto.
Os lasers fornecem um meio eficiente de conter essa queda no brilho. Todo o poder de um laser está contido em um feixe relativamente estreito, em oposição a se espalhar em todas as direções como a luz das estrelas faz. Devido à forma como a luz se espalha enquanto viaja – chamada de difração – o feixe de laser se espalharia para abranger sistemas solares inteiros depois de viajar muitos anos-luz pelo espaço, banhando aquele sistema planetário distante dentro do feixe de ocultação. Nenhuma queda no brilho faz com que pareça que não há planeta lá.
Uma capa de laser capaz de esconder a Terra de uma versão alienígena da missão Kepler da NASA exigiria 30 megawatts de energia em intensidade máxima, aproximadamente o equivalente a 10 turbinas eólicas de potência.
Enquanto o Kepler vê a luz em apenas uma cor, civilizações avançadas podem usar detectores mais sofisticados, capazes de coletar luz em todos os comprimentos de onda. Aqui também, nossa tecnologia atual poderia nos ocultar usando lasers sintonizáveis modernos, por um custo de cerca de 10 vezes mais energia no geral. Civilizações mais avançadas podem ser capazes de detectar outros pequenos detalhes das propriedades da luz, traindo o manto. Mas aqui também não há razão para que com um pouco de trabalho não possamos criar soluções, levando a uma capa quase perfeita que pode ser direcionada a estrelas distantes onde suspeitamos que alguém possa estar em casa.
Por que escolher se esconder
Então, sim, parece ficção científica, mas mesmo a tecnologia atual poderia fazer um bom trabalho de camuflagem da assinatura de trânsito da Terra.
Esqueça a Terra; nunca realmente pensamos nisso como algo que a humanidade deveria ou não deveria fazer. Em vez disso, postulamos que, se nossa tecnologia humana rudimentar pode construir uma capa de trânsito eficaz a um custo econômico relativamente pequeno, então civilizações mais avançadas podem ser capazes de se esconder de nós no que diz respeito a todas as técnicas de detecção. O universo pode não ser tudo o que parece.
Por que uma civilização pode escolher se envolver na invisibilidade? Poderia ser uma espécie de apólice de seguro: encontre os planetas próximos com potencial para sustentar vida e ative uma capa direcionada – apenas no caso de uma civilização emergir. Essa política efetivamente lhes dá tempo para revelar sua presença quando acharem adequado.
Dado o quão barato seria esse manto, uma apólice de seguro para o seu planeta natal talvez não seja tão estranha quanto parece. Certamente não é implausível que uma civilização queira esperar seu tempo – vigiando os vizinhos por um tempo antes de desenrolar o tapete de boas-vindas intergaláctico. Mas há um outro lado dessa tecnologia que pode transformá-la de uma capa de invisibilidade em mais um holofote do tipo “estamos aqui”.
O reverso: acenda o farol
Talvez nem todas as civilizações sejam xenófobas – algumas podem querer conversar. Se você quisesse revelar sua presença a outras civilizações da maneira mais barata e inequívoca possível, como faria isso?
Imagine olhar para alguns dados de um planeta distante – que se tornou um empreendimento um tanto normal para astrônomos – e perceber algo estranho. A assinatura do planeta tem uma forma estranha – na verdade, nenhum de seus modelos é capaz de explicá-la. Parece que alguém imprimiu uma série de picos nos dados, seguindo a série de números primos. Nada na natureza pode fazer isso – você acaba de detectar o farol de outra civilização. O uso alternativo do laser do sistema de camuflagem pode fazer com que o sinal de um planeta pareça altamente artificial, em vez de escondido. Agora eles não se importam em construir a capa perfeita; eles querem ser encontrados!
Poderiam esses sinais estar à espreita em nossas medições existentes? Talvez por isso. Ninguém nunca olhou, e esperamos que nosso trabalho estimule esforços nessa frente. Pode ser um tiro no escuro, já que até mesmo chegar a este ponto, precisamos tentar imaginar como os alienígenas podem pensar – mas dado o prêmio científico em oferta também vale a pena. Se identificarmos um trânsito estranho, ele pode conter informações codificadas por pulsos de luz laser. Enormes volumes de informações podem estar ocultos nas assinaturas de trânsito de outros planetas.
Para nós, este foi um exercício de curiosidade intelectual. Nós simplesmente calculamos quanta energia seria necessária para encobrir ou transmitir a existência de um planeta. Se devemos considerar seriamente envolver a Terra em uma capa protetora de invisibilidade – ou, inversamente, levar a sério a proclamação de nossa existência – por meio de manipulações de laser é algo que todos devemos decidir juntos.
(Fonte)
Seja como for, eu acho que “eles” já sabem que estamos aqui, e muito mais…🙄
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