Como anunciamos há poucos dias, o Dicastério para a Doutrina da Fé do Vaticano publicou um documento que detalha novas diretrizes sobre casos relatados de fenômenos sobrenaturais. O documento é precedido por uma exposição detalhada do Cardeal Víctor Manuel Fernández, seguida de uma introdução e seis possíveis conclusões.
Regra geral, nem o Bispo Diocesano, nem as Conferências Episcopais, nem o Dicastério terão autoridade para declarar um fenômeno de origem sobrenatural. Contudo, o Papa será o único capaz de autorizar um procedimento especial para determinar se o é ou não.
Segundo o documento, a Igreja exercerá os seus deveres de discernimento, com base no seguinte:
“(a) se os sinais da ação divina podem ser verificados em fenômenos que se alega serem de origem sobrenatural; (b) se houver algo que contradiga a fé e a moral nos escritos ou mensagens dos envolvidos nos supostos fenômenos; (c) se é permitido apreciar os seus frutos espirituais, se eles precisam ser purificados de elementos problemáticos, ou se os fiéis devem ser avisados sobre possíveis riscos; d) se é aconselhável que a autoridade eclesiástica competente cumpra o seu valor pastoral.”
Possíveis conclusões sobre um suposto fenômeno
Por outro lado, são detalhadas as seguintes conclusões que podem ser alcançadas após discernir um suposto fenômeno sobrenatural:
- Nihil Obstat: Sem expressar certeza sobre a autenticidade sobrenatural do fenômeno, reconhecem-se muitos sinais da ação do Espírito Santo. O bispo é encorajado a valorizar o valor pastoral e a promover a difusão do fenômeno, incluindo as peregrinações.
- Prae oculis habeatur: Embora sejam reconhecidos sinais positivos importantes, também são percebidos aspectos de confusão ou riscos potenciais que exigem do bispo diocesano um cuidadoso discernimento e diálogo com os destinatários de uma determinada experiência espiritual. Se houver escritos ou mensagens, poderá ser necessário esclarecimento doutrinário.
- Curatur: Vários ou significativos elementos críticos são notados, mas o fenômeno já está amplamente difundido e os frutos espirituais verificáveis estão conectados. Portanto, não é recomendada uma proibição que possa perturbar os fiéis, mas o bispo local é aconselhado a não incentivar o fenômeno.
- Submandato: As questões críticas não estão relacionadas com o fenômeno em si, mas com a sua utilização indevida por indivíduos ou grupos, tais como ganhos financeiros indevidos ou atos imorais. A Santa Sé confia a direção pastoral do lugar específico ao bispo diocesano ou a um delegado.
- Prohibetur et obstruatur: Apesar de vários elementos positivos, os problemas e riscos críticos associados a este fenômeno parecem muito graves. O Dicastério pede ao bispo local que ofereça uma catequese que possa ajudar os fiéis a compreenderem as razões da decisão e a reorientar as suas legítimas preocupações espirituais.
- Declaração de não sobrenaturalidade: O Dicastério para a Doutrina da Fé autoriza o bispo local a declarar que o fenômeno não é de origem sobrenatural com base em fatos e evidências concretas, como a confissão de um suposto visionário ou testemunhos credíveis de fabricação do fenômeno.
Procedimentos a seguir
A nova regulamentação indica os procedimentos a serem implementados. Cabe ao Bispo diocesano examinar os casos e apresentar a sua decisão ao Dicastério para aprovação. Pede-se ao bispo que se abstenha de fazer declarações públicas sobre autenticidade ou natureza sobrenatural e que garanta que não haja confusão ou sensacionalismo.
Se os elementos do caso “parecerem suficientes”, o bispo diocesano constituirá uma comissão de investigação, que deverá incluir pelo menos um teólogo, um canonista e um perito escolhido de acordo com a natureza do fenômeno.
Critérios positivos e negativos
O documento estabelece vários critérios positivos para avaliar o suposto fenômeno sobrenatural.
Estes incluem:
“a credibilidade e a boa reputação das pessoas que afirmam ser destinatárias de acontecimentos sobrenaturais ou estarem diretamente envolvidas neles, bem como a reputação das testemunhas que foram ouvidas…; a ortodoxia doutrinária do fenômeno e qualquer mensagem a ele relacionada; a natureza imprevisível do fenômeno, pelo que é evidente que não resulta da iniciativa das pessoas envolvidas; e, os frutos da vida cristã.”
Os critérios negativos incluem:
“a possibilidade de erro manifesto sobre o evento; possíveis erros doutrinários…; um espírito sectário que promove a divisão na Igreja; uma busca óbvia por lucro, poder, fama, reconhecimento social ou outro interesse pessoal intimamente ligado ao evento; ações seriamente imorais…; alterações psicológicas ou tendências psicopáticas na pessoa que possam ter influenciado o alegado acontecimento sobrenatural; e qualquer psicose, histeria coletiva ou outros elementos rastreáveis a um contexto patológico.”
Finalmente, é considerado de particular gravidade moral:
“o uso de experiências supostamente sobrenaturais ou de elementos místicos reconhecidos como meio ou pretexto para exercer controle sobre as pessoas ou cometer abusos.”
Independentemente da deliberação final aprovada, o bispo diocesano “deve continuar a acompanhar o fenômeno e as pessoas envolvidas, exercendo o seu poder ordinário”, conclui.
As regras entrarão em vigor no domingo, 19 de maio, festa de Pentecostes.
(Fonte-MP)
Vale lembrar que as mídias, tanto corporativas quanto alternativas, esperavam muito que o Vaticano iria revelar algo a respeito do fenômeno OVNI. Era óbvio que não se tratava disso. Alguns canais (e foram vários) até mesmo anunciaram que o Papa estava preparando uma conferência de imprensa sobre alienígenas e o sobrenatural. Embora o documento trata mesmo a respeito do sobrenatural, nada de alienígenas é mencionado nele.
A priori, o Vaticano cuida de questões relacionadas diretamente à fé de seu rebanho, tais como supostas aparições marianas, de santos, de Jesus, etc.
Contudo, durante a conferência com a imprensa, o Cardeal Victor Manuel Fernandez foi informado da expectativa de que o documento tratasse de extraterrestres também, e ele explicou:
“Por não sermos especialistas, não podemos intervir.”
Claro, como já era de se esperar, essa declaração serviu para alguns dizerem que se trata de uma comprovação de que há mesmo alienígenas nos visitando. Mas embora exista a possibilidade de estarmos sendo visitados por outras inteligências, aquilo que o Cardeal falou certamente não foi comprovação alguma disso.
O Cardeal ainda informou quando foi perguntado a respeito de alienígenas:
“Pode acontecer que um determinado fenômeno deste tipo esteja ligado a um fenômeno religioso cristão, nesse caso veremos, mas caso contrário não.”
Assista abaixo parte da conferência, que infelizmente não possui legenda:
O documento em português pode ser lido na íntegra no próprio site do Vaticano, clicando aqui.
n3m3
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