Espiões e discos voadores
O “cientista maluco” trabalhando sozinho num laboratório – uma instalação úmida subterrânea, repleta de equipamentos eletrônicos e tubos de ensaio com líquidos estranhos – é uma das alegorias mais reconhecíveis com campo escrito e visual.
Desde o Dr. Frankenstein em suas muitas encarnações, evocando raios dos céus para animar sua criação, até o Capitão Nemo em seu inavegável submarino, e até mesmo as humorosas representações do cientista Hans Zarkov, por Topol no Flash Gordon (1980), são imagens que têm estado conosco e que aceitamos sem questionamento.
Diz o psicólogo Stuart Vyse:
“Houve este receio, devido à bomba, do poder da ciência para gerar criaturas temerosas, ou para nos machucar de alguma forma. Isso é o equivalente dos vilões típicos, força sobre-humana e poderes anormais de vilões de filmes de Halloween. A ciência tem isto também. E assim, eu acho que isso é parte da razão porque os cientistas algumas vezes são colocados num papel terrível” (Cari Romm, The Enduring Scariness of the Mad Scientist, Atlantic Magazine, 10.29.2014).
No campo dos OVNIs encontramos o cientista maluco e seu inevitável equivalente, o inventor maluco. Este último trabalha só, evita raptar desafortunados transeuntes para seus experimentos (assim esperamos) e ele foca em criar uma máquina, substância ou aparelho que revolucionará o transporte humano, ou pelo menos não será rejeitado pelo escritório de patentes.
William Cooper – do MJ-12 – escreveu extensivamente sobre Thomas Townsend Brown, o inventor que começou seu trabalho a respeito da anti-gravidade já na década de 1920, no laboratório de sua casa (onde mais seria?) e fracassou nos seus esforços para captar o interesse do corpo docente do Instituto de Tecnologia da Califórnia para suas descobertas. Duas décadas mais tarde, o incansável Brown ainda persistia, tentando convencer os militares e a indústria sobre a utilidade do seu ‘electrogravitics‘ para as aviações civil e militar, e até mesmo espacial.
Por volta da mesma época que Townsend estava mais ativo, um aviador da Primeira Guerra Mundial de nome W.H.S. Ashlin foi abordado pelo governo do Chile com uma oferta muito anômala. A oferta de Ashlin para construir um “disco voador” para a Real Força Aérea (Inglaterra), onde ele orgulhosamente servia, foi rejeitada; ele então foi até ao Comandante em Chefe do Exército Chileno com uma oferta similar. Roberto Branch menciona isto em seu Guia Biográfica de la Ufología Argentina (Buenos Aires: CEFAI, 2000), adicionando que além da menção do jornal chileno, La Nación, nenhuma outra menção é feito de Ashlin ou de sua maravilhosa tecnologia. Uma pessoa pode ficar tentada a pensar sobre o mago anglo-chileno “Manuel O’Bean” do ‘The Wizard of the Air‘, de Michael Moorcock.
“Cientistas malucos” não estão em falta nos Andes. Juan B. Leone, da Escuela de Bellas Artes da Argentina, já tinha saído com seu próprio disco voador – um aparelho circular, impulsionado à hélice, que foi apresentado aos militares de seu país – em 1944, com pouco sucesso. Uma foto do inventor e seu simples, mas efetivo aparelho, apareceu na imprensa argentina (La Razón) em 1947.
Uma compilação das intrigantes invenções de Banch, inspiradas em formatos de discos, não para por aqui. Ele incluiu uma declaração de Julio Ruiz, um técnico do Gabinete de Correio e Comunicações, declarando que “o disco voador” tinha estado em existência na Argentina desde 1941. Embora nenhuma ilustração tenha sido fornecida, o aparelho em questão é descrito como tendo o formato de um disco com um motor que fornece movimentos “verticais e horizontais, um leme e um aileron”.Os “anos da guerra” da década de 1940 oferecem aos pesquisadores um baú cheio de tesouros de informações anormais e inesperadas. Uma dessas é o Dossier 1093/258 do Gabinete Britânico do Exterior, datado de 4 de abril até 23 de julho de 1943, com o titulo: “Agents (Enemy): Eduardo Rogada Quintinho, Artur Viana Dos Santos; Oscar Liehr, Niles Christensen”.
A pasta contém correspondências militares sobre as medias tomadas contra agentes inimigos disseminados nos países que tinham ficado neutros durante a guerra. Uma mensagem fala sobre “o transporte até Trinidade de Nils Christensen, um agente alemão enviado ao Brasil”.
Christensen foi uma captura de sorte pelos Aliados, pois sua rede de espionagem centralizada no Brasil mantinha diários das operações de navios britânicos nos portos da costa brasileira até a própria Buenos Aires, ajudando e encorajando o afundamento dos cargueiros pelos submarinos. De acordo com o Naval History and Heritage Command (www.histor.navy.mil), “este foi o período de maior sucesso da espionagem alemã no hemisfério ocidental.”
O notório espião ficou interessado na ovniologia por uma única razão. Quando estava sendo julgado por espionagem no Brasil, ele alegou ser “o inventor da disco voador“, adicionando que entre 1939 e 1941, enquanto estava empregado na divisão de pesquisa do 10º Exército Wermacht, ele havia inventado “discos voadores” como aparelhos de observação, capazes de serem produzidos rapidamente e de forma barata. Uma vanglória almejada aos seus nervosos captores? Ou teria o espião realmente tido um papel na criação de discos voadores feitos pelo homem?
(Fonte)
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